domingo, 26 de dezembro de 2010

CRONICA DE ANO - NOVO


CRÔNICA DE ANO-NOVO

Isaac Starosta

Já foi costume se dizer “ano-novo, vida nova”, mas hoje eu não exijo nada de novo da minha vida, basta continuar a viver, para amar, para ver os filhos melhorando de vida, para ver o Grêmio em Dubai sem fazer fiasco. Basta continuar, o mais do mesmo. Deus já me deu muito mais do que eu esperava.

Mas a sabedoria não tem limites. Se estou vivo, é pelo que ainda não sei.

A mudança de ano é uma novidade que vai passar num instante. Logo o novo ano vai nos dizer que está ficando velho. E nós vamos passar pelos mesmos lugares, cada dia igual, cada sensação igual, e quando alguém morrer, vamos repetir o mesmo adágio “que bom que não fui eu”.

Viver é uma doença, é sim, mas uma doença que traz em si a própria cura. Os cabelos vão ficando brancos. As idéias vão ficando brancas. E a gente ama cada vez como se fosse a última.

Quando estamos num restaurante estilo francês praiano, onde a gente come uma vez por ano, cadeiras na calçada, noite de praia, brisa do mar, é quando a gente comenta um para o outro: é a melhor coisa que eu já comi. O que se come só uma vez pode ser melhor do que tudo. Melhor do que o nome, melhor do que a fama, melhor do que o Prêmio Nobel.

As coisas são boas. As coisas superam nossos planos. São coisas, apesar de indefiníveis, e quando elas se repetem e vão ficando crônicas, elas admitem pelo menos uma crônica como esta.


segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

NOVO POEMA

Oba, acabei de escrever um novo poema!

Se me perguntarem por que você escreve, vou responder que, primeiro, porque a palavra escrita é a minha cachaça, e, segundo, porque enquanto houver tinta na minha caneta, meu sangue continuará circulando.

EXPERIÊNCIAS

De Isaac Starosta

Vou contar as minhas

Experiências

Não as mais íntimas

Pois estas competem

Aos repórteres

E aos cineastas

Quem ouvirá o meu solo

De clarineta

Quando nem o sol

Ainda é chegado?

Um dia me chamaram de

O Rei do Papo Furado

Debruçado

Sobre a minha história

Só vejo três datas:

A que nasci a que morri

E no meio

Um nó de complicação

Que nem vale a pena cortar...

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

EUREKA



Eureka, gente minha querida.

Eu fiquei deveras contente, além de radiante e exultante também - chega de adjetivos? Tudo só porque um leitor deste blog, o Marco, que me conhece da loja de discos do Ivan, pediu, em comentário, que eu falasse doravante sobre a Música Erudita. (abro parêntese para pedir que cada leitor deste blog me lance os assuntos sobre os quais gostaria que eu discorresse, tal como o Marco está fazendo agora).

Começaremos falando em Cesar Franck, que nasceu em Liège, Bélgica, e viveu em Paris, França. Por isso os entendidos o consideram um compositor franco-belga, e assim também o violinista a quem C.Franck dedicou sua sonata em Lá Maior para violino e piano: Eugene Ysaye.

Por falar nisso, não sei se sou mais ligado aos parentes ou aos parêntesis. (Tudo começou com a minha irmã, Annita, a quem vai aqui um preito de gratidão. É que minha irmã foi a chave principal para a minha inserção na música erudita. Dia e noite ela tocava piano. Tocava com sinceridade, sensibilidade, sentimento e, principalmente, com autoridade. Sendo que, entre os pianistas amadores, o que se nota em geral é, pelo contrário, vacilação, falta de dedos, muitas vezes falta de alma também. Minha irmã, além do mais, tinha gosto, interpretação e paixão, não sei como conseguia se transfigurar espiritualmente e tocar obras maiúsculas de Chopin, Lizst e Schuman. O que lhe faltou foi ultrapassar os vinte anos com a mesma aura pianística que a tinha motivado na infância e na adolescência. A idade adulta pode ser, às vezes, a maior inimiga de uma vocação artística).

Posto isso, voltando ao nosso assunto, penso que Cesar .Franck tem obras importantes para órgão (ele foi organista profissional), para piano solo, piano e orquestra, uma Sinfonia monumental em Re, e música de câmara de alto nível Acredito, porém, que a sua obra de maior aceitação é a sonata em La para violino e piano. Aqui em Porto Alegre, tal obra foi apresentada em concurso para professor de violino no Instituto de Artes. Tão grande tem sido o sucesso da sonata que, coisa rara, ela chegou a ser transcrita para cello, flauta, viola e outros instrumentos.

Como o destino das grandes músicas é encontrar os grandes executantes, esta sonata magnífica chegou às mãos do grande violinista Eugene Ysaye, que a estreiou, em 16/12/1886, com Madame Bordes-Térne ao piano. Aliás, além de Franck, Ysaye foi impulsionador de Saint-Saens, Chausson, Lekeu, Gabriel Fauré, do lado francês. Paralelamente, o violino romântico alemão foi impulsionado pelo grande violinista judeu-alemão Joseph Joachim, que lançou as obras de Brahms.

Convém notar que numa das primeiras vezes em que Ysaye executou a sonata foi a pedido da Sociedade de Música Moderna de Paris.

Quanto às gravações, pesquisei e encontrei o seguinte:

1. De acordo com “The Book of the Violin” (Dominic Gill, Phaidon Press, 1984, p. 143), a melhor é a de KYUNG – WHA CHUNG, com Radu Lupu ao piano.

2. O mesmo livro cita gravações mais antigas, como as de Jacques Thibaud/Alfred Cortot, e Yehudi Menuhin com sua irmã Hephzibah ao piano.

3. Parece incrível, passados 25 anos, consulto o Penguin Guide, e a melhor gravação desta sonata continua sendo a dupla CHUNG/LUPU (só não sei se este CD ainda se encontra disponível em algum lugar.

4. O Penguin fala também de uma gravação da sonata de C.Franck, reeditada pela DG (Deutsch Gramophon), com uma dupla polonesa: Kaja Dancrowska no violino e Krystian Zimerman no piano, interpretação dramática, fogosa e firme de linhas.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

MELVILLE


Quando o pensamento de Melville (citado por Vila-Matas na sua obra “Bartleby & Cia”) elogia o ser humano por ser capaz de metamorfosear-se, lembra-me imediatamente uma das maiores revelações das minhas leituras: Kafka, em “A Metamorfose”, transformando-se numa barata para escandalizar os seus acomodados parentes.

Até quando não provocamos escândalo nenhum, estamos provocando também, porque o nosso silêncio estará desafiando o tempo todo àqueles barulhentos que não cessam de ovacionar os ídolos de barro que estão na moda.

Cito agora, textualmente, o pensamento de Melville, conforme traduzido por Vila-Matas:

“Melville, en The Confidence Man, transmite una clara admiración hacia el ser humano que puede metamorfosearse en múltiplas identidades”

Baseado nesta metamorfose melvilleana, apresento o meu próprio exemplo de como me aconteceu de mudar constantemente de atividades profissionais.

Assim, a publicação da 2ª edição de “Porto dos Casados” (Ed. Ática, 1979), meu primeiro romance e Prêmio Nacional, motivou que eu me desligasse um tanto do fazer literário, pois já havia conquistado o Grande Prêmio que eu queria, e que, de certa forma, tinha me convencido de que eu já era alguém.

Simultaneamente, eu já constituía nova família, novas bocas para sustentar, e nada melhor então do que confiar no meu velho ofício de Periodontista, para me integrar ao departamento preferido, dentro da minha diplomação de Dentista. Além disto, um tempo depois eu ainda me reintegrava numa velha ambição: a de tocar violino.

E o meu segundo romance aos poucos foi sendo escrito durante os últimos quinze anos, e, quanto mais pronto ele me parece, mais eu encontro como necessárias, novas e novas revisões. Até hoje.

Outra coisa que nunca cessei de fazer, foi os poemas, são a água que bebo desde a mais recuadíssima infância. Fui poeta infantil nato, daí passei a ser estudante de Química, de Filosofia, depois dentista profissional. E, além do mais, pretendi melhorar a minha Literatura, e o conhecimento literário em geral, através de fazer uma Faculdade de Letras, que é mais uma das buscas na minha eterna adolescência.

Recapitulando: fui escritor, poeta, violinista, periodontista, e ainda, antes que eu me esqueça, estudante de Letras.

E, convenhamos, quem me dá uma baita força é Melville, quando elogia fervorosamente aquele ser humano capaz de metamorfosear-se.

Assim acontece na vida, quando me transformo nas mais diversas identidades, em busca de alcançar UMA COISA SÓ, que talvez nem exista.

Uma das minhas maiores preocupações atualmente é estar gostando muito, muitíssimo de escrever para este meu blog “Tavesseiro de Idéias”, estou sentindo como essencial esta comunicação, mas, ao mesmo tempo eu gostaria de maior interatividade com os leitores.

Daí eu peço, encarecidamente, que os leitores se posicionem a respeito de minhas idéias, e de como posso fazer para melhorar e tornar mais interessantes os meus textos.

Obrigado.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

C O N V E R S A


A vocês, amigos meus de qualquer parte do Brasil ou do Mundo, dedico este poema que foi publicado ontem, 18 de novembro de 2010 no jornal Zero Hora de Porto Alegre setor Almanaque ZH
Abraço

Conversa

De Isaac Starosta


Quero falar contigo
Num centro comercial
Ou em qualquer lugar
Onde haja os tíquetes
De conversação

Falando é fácil
Enfrentar a fila
Enfrentar a fome
Ou mudar a agenda
Da nossa apatia

Pesco a tua voz
Na terra firme
Lá onde brotam
Todas as minhas
Sementes íntimas

Entre sargaços
Andamos às cegas
Trocando palavras
Criando novo espaço
À nossa alegria

sábado, 6 de novembro de 2010

JOAQUIM NABUCO FRASISTA



É um ótimo biógrafo, memorialista, historiador, advogado, diplomata.

Mas alguém sabe do seu trabalho como pensador?

O livro que eu descobri do mestre nessa área é justamente o que leva literalmente por título ”Pensamentos Soltos” do qual extraí, para meus leitores, o de número 37, à página 102:

“Em milhares de livros, há um que é tema; os demais não passam de variações”.

Admirei neste pensamento o raciocínio conciso, certeiro, direto ao alvo, e há também nele alguma ironia com os que escrevem, escrevem, escrevem, sempre em redor do que os outros já escreveram. Mas não será esta a injunção natural de tudo o que a gente pensa, de tudo o que a gente diz? As coisas que a gente faz se correlacionam ao já feito. E este é o mecanismo mais comum a todos os atos civilizados.

Quais livros é que poderiam ser considerados “temas”? Seria um o D.Quixote, referente às utopias? Seria outro o “Romeu e Julieta”, referente à eterna força do amor?

Ora, os escritores e os editores de hoje ficariam ruborizados com este pensamento solto, número 59, de Joaquim Nabuco:

“A profissão de escritor merece toda piedade. Escrever para ganhar o pão, escrever para viver é deformar o talento”.

Sim, certo, pois grande parte dos que militam nos jornais se preocupam mais com o “furo jornalístico”, que faz o jornal vender, do que com o estilo do texto, ou com a serena contemplação da verdade.

Esta concepção do escrever de Nabuco está posta de uma maneira um tanto radical, porém agora, pensando bem, haveremos de convir que a maior parte do que se publica não é para ganhar o pão. E os que vivem do ato de escrever são muito raros.

De qualquer forma, este conceito de Nabuco coincide com a minha idéia mais consolidada, em função da experiência que eu tenho tido, de que a literatura, antes de mais nada, visa um padrão estético, e, como tal, pertence às Belas Artes.

sábado, 23 de outubro de 2010

PINGOS E RESPINGOS (III)

1.

Por esses dias resolvi publicar, dentro deste blog, uma autobiografia. Na ocasião a minha amiga Gilia ficou sabendo e até ficou entusiasmada: – Vai ser lindo, ela previu.

Mas hoje, passados uns meses, estou achando difícil corresponder à façanha que me propus.

Se eu ainda não morri, como é que vou ter uma visão completa sobre a minha vida?!

2.

“Quando estava à-toa resolvi fazer uma poesia. Agora faço uma poesia para ficar à-toa”.

Esta bela frase pertence a José Joaquim Salles

Procurando no Google, descubro que J.J.Salles foi o ilustrador do livro de poemas de Cacaso “Na corda bamba” que também dá nome a um dos poemas do livro:

“Na corda bamba

Poesia

Eu não te escrevo

.Eu te

Vivo

E viva nós!”

Cacaso é poeta dos anos de chumbo e cuja poesia Heloisa Buarque de Holanda classifica como “marginal”, ou seja, onde há uma indistinção entre poesia e vida.

“Ou seja, quando a poesia marginal propõe uma quase coincidência entre poesia e vida, esta proposta poderia, no limite, resultar no desaparecimento da própria poesia. É a produção poética literalmente na corda bamba...”

A poesia neste caso seria marginal porque a indistinção entre poesia e vida cria uma poesia afastada dos moldes acadêmicos, o que vemos no belo exemplo de “na corda bamba”.

3.

Será que esta campanha eleitoral vai continuar sempre assim, um dos lados há dois anos proclamando-se vencedor, e o outro lado sem saber como fazer para sair do fato consumado que os adversários estão lhe apresentando?

4.

Serra quer espalhar São Paulo, com o seu progresso, por todas as partes do Brasil, enquanto Lula quer transformar São Paulo num novo e retumbante sucesso das idéias petistas.

Qual das duas alternativas resultará melhor para nós, brasileiros?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

PINGOS E RESPINGOS (II)



PINGOS E RESPINGOS (II)

1.

Uma sobrinha me conta que, certa vez, perguntou ao seu avô qual era a história da vida dele. E vovô respondeu: - Não vale a pena contar para você o que seria uma história muito triste. Aí então eu lembrei que à minha mãe, poucos meses antes de morrer, pedi que me contasse algo de sua história e ela respondeu que não teria o que contar, ou seja, não deu nenhuma resposta. Aí pude ver que isto se aplica às eleições também. O candidato que se recusa a contar suas tristezas acaba por fingir quase tudo. E o escritor Álvaro Moreira uma vez publicou o seu livro de maior sucesso, que se chamava exatamente como este assunto que estamos conversando: “As Amargas não”. O que concluo, hoje, é que o livro apesar de ser bom teria ficado melhor ainda se o Álvaro tivesse contado as tristezas também. Pois toda vez que pretendermos bloquear as coisas tristes vamos acabar bloqueando as alegres também.

2. O Ato de Votar

A votação antigamente era mais genital, a gente enfiava uma cédula dentro da urna, agora tudo se resume em apertar um botão, para que tanta delicadeza?!

3. Partidos

Só existem para negar uns aos outros.

Eu, particularmente, sempre achei difícil pertencer a um partido, a uma manada de crentes, e a um batalhão militar.

Assim mesmo, nunca nos esqueçamos de que existe o mal menor. Nada pode justificar uma abstenção.

4. E os Candidatos?

Os candidatos mentem.

Já deviam ter gasto todas as suas mentiras no Primeiro Turno. Mas continuam mentindo.

O que é comunista se disfarça de terceiro-mundista.

O apátrida se esforça em passar por nacionalista.

Vira e mexe, vamos ter um stalinismo paz e amor.

E um reformismo mel-com-cerejas.

Todos eles se disfarçam para poderem vencer.a eleição. Mas qual vitória conseguirá disfarçar a fragilidade de uma vida que se perde em ambições inconfessáveis?!

No fim de tudo, caros amigos, volto a insistir que é preciso escolher o mal menor. Eis um recurso legítimo que a gente usa para não se entregar ao niilismo.

Gosto dos verdes, tanto nos jardins como na Política.

Gosto dos democratas ao máximo, embora seja muito difícil encontrar algum cem por cento.

5. O Mal Menor

Dentro do princípio do mal menor, vou votar em...

Não digo o nome porque não sou propagandista de ninguém. Porém posso dar umas pistas:

Vou votar em quem for mais culto(a), mais civilizado(a), menos fanático(a) e menos teleguiado(a).

6. Um Poema

Estou com um projeto de poema que deve se chamar “Eleição”. Está apenas em esboço.

Dou apenas um trecho:

“Se os candidatos mentem

Para quê cobrar que sejam verdadeiros?

Só para eles se obrigarem a mentir que

Não estão mentindo?!

Se eu gosto dos verdes e dos azuis,

Vou votar num tucano

Com cabeça de avestruz!”

sábado, 2 de outubro de 2010

PINGOS E RESPINGOS



PINGOS E RESPINGOS

1.

Estou voltando a este blog após alguns dias de ausência, uma parte desse tempo por ter viajado e, outra parte, porque não gosto de escrever por obrigação. Aliás, tenho conhecido respeitáveis intelectuais que consideram de mau gosto alguém escrever por mera obrigação profissional. Foi até por este motivo, creio, que aos dezoito anos de idade escolhi a profissão de dentista para ganhar a vida enquanto continuaria escrevendo por prazer nas horas vagas.

2.

Os jornais noticiam que milhares e milhares de brasileiros já estão passando dos cem anos de idade.

Eu mesmo daqui a pouquinho estou chegando perto dos oitenta, o que aceito como um belo resultado do meu jeito de viver. – Ou da proteção divina?

Agora preciso de alguma receita que me leve ao glorioso Centenário.

3.

Tenho gostado das análises políticas do jornalista Armando Burd, sempre sólido e eficiente, escrevendo para o Jornal O Sul. Concordo com ele que seja preciso mudar o formato das campanhas e dos debates eleitorais.

Para mim, a propaganda na TV, além de não mostrar quase nada, ainda faz uso de chavões comerciais como aqueles dos carros de propaganda.

Nos debates entre candidatos, não há espaço para que os temas amplos sejam bem explicados; tudo é rápido, em segundos. Tudo é cronometrado. Mais parece um pingue-pongue do que um debate de idéias. Talvez porque o tempo na TV custa caro, mas também porque o conhecimento dos candidatos carece de maior precisão, descamba para um “achismo” desgraçado. Esta é uma postura individualista dos candidatos, por falta de uma convivência partidária mais profícua. Talvez por efeito dos marqueteiros, os candidatos mudam de posição política sobre os mesmos temas uma porção de vezes. Devido a isto, e também porque os partidos estão cindidos e desorientados, é o que constatamos na frase de Armando: ”Campanha de José Serra no Rio Grande do Sul está mais para jogo de quebra-cabeças que caiu no chão”.

A coluna de Armando Burd colabora para o catálogo de rimas eleitorais: “Preciso do teu apoio, vote no Zé do Arroio”. E ainda tem no final, como sempre, uma referência histórica, desta vez ao impeachment de Fernando Collor, com dois eles e tudo, no dia 28 de setembro de 1992, mostrando-nos como tem sido frágil a nossa democracia desde a eleição de Janio Quadros em 1960.

O que se precisa urgentemente é de uma reforma política que defina melhor e dê mais consistência aos partidos. A reforma se faria por uma Constituinte mista com líderes partidários, parlamentares e representantes dos variados setores da sociedade.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

DE POLÍTICA


O problema.

É difícil discutir política ? É.

Política deviam ensinar no colégio.

Nos colégios onde passei nunca ensinaram.

Creio que não ensinam a votar porque sempre foi mais fácil utilizar o voto de cabresto, no qual o votante se submete à autoridade de quem manda.

Meu pai criticava amargamente:

- Só se mete em política quem é sem vergonha.

Isto era dito só da boca pra fora, pois na hora de votar ele sempre escolhia alguém, por ele e por mim.

A redação.

Faz de conta que ainda sou um menino colegial e preciso escrever uma redação em época de provas.

Como estamos em época eleitoral, voltei ao marco zero, e preciso saber melhor como tratar o tema da Política. E até mesmo reescrever a história deste país desde minha juventude até agora.

Um jovem

Por esses dias um jovem me disse que vai votar em branco, pois não há nenhum só político que mereça o seu voto.

Eu então respondi que assim como na vida nós não podemos dar um passo sem escolher companhia, na política também, precisamos escolher com quem calibrar nossos pontos de vista.

Nenhum candidato é perfeito, mas podemos escolher aquele que, para cada um de nós, tenha menos imperfeições.

A alternância do Poder

Existe um impasse. Quem está no poder quer mais poder. E quem está fora não sabe como entrar.

O PSDB exerceu o poder durante oito anos. E o PT, por sua vez, repetiu a mesma dose nos oito anos seguintes.

Esta é uma tendência dos grandes partidos: pensar que são os detentores perpétuos da coroa imperial.

Quando é que alguém vai levar à prática aquelas reformas que o país exige? Pois a tendência dos políticos é de não arriscar um milímetro de suas posições já conquistadas.

E os partidos pequenos, poderiam ter maior influência na política brasileira, se deixassem de andar a reboque dos partidos maiores.

Como no futebol

Nesta redação colegial, lembro que o meu Grêmio Futebol Porto Alegrense foi inferior ao Rolo Compressor do Inter durante anos. E nós, torcedores do Grêmio, ficávamos apáticos, numa discreta esperança de que no ano seguinte chegaríamos lá.

Como eleitor, também, sempre torci pelo mais fraco.

No partido Socialista

Quando jovem, por um bom tempo votei nos candidatos do Partido Socialista Brasileiro.

O PSB era um partido de grandes intelectuais, como o jurista João Mangabeira, Domingos Velasco, homem de Goiás que chegou a senador, e gente do Sul como o médico Rubens Maciel, o jornalista Flávio Tavares e o radialista Cândido Norberto, Um partido tão recheado de grandes craques, igual ao Grêmio, como podia ficar fora do poder? Um partido que não aceitava autoritarismos e que poderia ser vitorioso, como o Labour Party inglês, se não se tivesse coligado a outros partidos maiores..

Os candidatos

Um candidato bom, hoje, teria que se pautar pelas questões referentes à Cultura, à Educação e ao Meio Ambiente, o que não tem acontecido, porque os políticos, movidos pela ânsia de resultados imediatos, só agem em prol do crescimento econômico.

Institutos de Pesquisa

As pesquisas tem se comportado como se fossem a própria eleição, e, assim sendo, não ajudam à escolha do eleitor.

Seria bom que o eleitor votasse pela sua convicção e não pelo que as pesquisas estão indicando.

Se este campeonato eleitoral põe na mídia todo dia quem vai ganhar, então para que realizar as eleições?

Coligações.

Só servem para confundir a população.

Quem vota está em busca da verdade, e não só de vencer.

Ora, a coligação só visa reforçar os partidos para a vitória.

E do que se precisa para ser feliz é de viver na verdade e não numa vitória de Pirro, efêmera e enganadora.

Continuísmo

O continuísmo é um fato marcante na conjuntura brasileira.

Getúlio ficou 15 anos no poder, sob o pretexto de combater o comunismo e o integralismo.

Mas o comunismo não era tão iminente assim, e o integralismo, parente do fascismo, com o qual Getúlio até simpatizava, para que iria combater?!

Também os revolucionários de 64 cuidaram de estar salvando a democracia contra os esquerdistas, ao prometerem uma eleição para breve. Alguns candidatos, como Lacerda e Juscelino, confiaram cegamente nessa eleição, porém, o tal “para breve” resolveu durar apenas mais de vinte anos!...

A maior sabedoria está em nunca mexer num time que está ganhando...

Idealismo

Um idealismo, saudável, poderá um dia suplantar nossa vocação monárquica? Vamos até quando repetir os velhos vícios?

Alguém tem previsão para mudanças substanciais?

ELEIÇÃO?

Eleição é a instituição símbolo de uma democracia.

Tanto assim que uma eleição fraudulenta poderia até ser anulada.

Mas o que vem a ser na prática uma fraude?

Quando eu era garoto, soube de um candidato que costumava se eleger devido à farta distribuição de chaveirinhos, flâmulas, camisetas.

Mais tarde ouvi falar que há compra de votos em dinheiro vivo, ou até prometendo empregos aos eleitores.

E ouço noticias sobre parlamentares que trocam vagas em hospital por apoio em eleição...

Assim mesmo, em prol da democracia continuaremos sofrendo problemas e aperfeiçoando as nossas leis.

Interesses

Mas convenhamos, a eleição não precisa ser um mero jogo de interesses para angariar privilégios.

Os partidos, que mudam de camisa conforme as vantagens oferecidas, tem um estrato superficial bonzinho, de amigo do povo, e um estrato profundo que não decifram para ninguém.

E eu que numa vida inteira não me abalei por influências, e nunca negociei com as minhas idéias, como é que fico?!

O marketing, que é um típico recurso capitalista para manipular o mercado impondo a venda de um produto, como é que pode ser utilizado em eleições?!

Eu prefiro votar de acordo com minha própria consciência.

E um esquema político, magnetizando as massas, não se torna uma religião, que é o que Marx menos queria aceitar por ser o “ópio das massas”?!

Partidocracia

A democracia às vezes se transforma em PARTIDOCRACIA, onde um partido, que antes tinha alguma identidade, passa a ser um monte de tendências que se opõem e que nunca, poderiam conviver. No entanto as alianças em geral se criam não por motivos ideológicos ou programáticos, mas por maior hegemonia política, ou tempo de propaganda na TV.

Conselho

Como posso aconselhar meus filhos a votar em A. B. ou C, depois que o meu pai me ensinou a desconfiar dos políticos?

Meu pai dizia:

- Se você hoje tirar da Política o egoísmo e a ambição, será que ainda vai sobrar alguma coisa?!

E acrescentava, saudosista:

- No meu tempo, fazer política era a máxima honraria, prestar serviços à comunidade, sem a mínima remuneração!

Loteamento de cargos

A disputa acirrada por cargos e vantagens mostra que o Amor ao Poder exerce muito mais atração do que o Poder das Idéias. Isto acaba causando uma descrença geral no valor das eleições.

O valor das eleições

Tudo isso nos leva à conclusão de que eleição não é um campeonato de futebol, onde o mais importante é ganhar ou perder.

A finalidade da eleição num país novo como o nosso é exercer um processo educativo, dilatando e aprofundando nos novos eleitores uma consciência dos problemas brasileiros e suas vias de solução. Processo educativo que, é claro, uma consulta a todos os partidos e não com a hegemonia de um só.


quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O BARBA-RUIVA


O BARBA-RUIVA

O canarinho Barba-Ruiva está há trinta anos lá em casa e não pára de cantar o dia inteiro. Foi um presente que eu ganhei pelo Dia dos Pais.

E ele canta democraticamente para todos que o queiram escutar, independente de credo e preferência eleitoral nas próximas eleições de outubro.

De início até pensei que, pela cor cinza-chumbo da sua plumagem, o bichinho não pudesse ser um bom cantor. Das minhas leituras em livretos sobre a vida dos canários tinha-me ficado a noção de que canário, para ser bom, teria de ser puro-sangue, amarelo imaculado, a cor própria da seleção brasileira de futebol. Mas pela força do seu canto, em pouco tempo passei a mudar aquela minha idéia de puro-sangue em relação aos canários.

O apelido de “Barba-Ruiva” foi a Silvia quem lhe deu, devido a umas manchas marrom-avermelhadas, em pequena parte das penas escuras, em redor do bico e em redor dos olhos dele também.

Não para de cantar o dia inteiro. Ainda mais considerando que nós acolhemos aqui em casa dois periquitos que se haviam perdido na via pública, e eu então tinha para mim, de acordo com Tia Celima, que “periquito só serve para estragar o canto dos canários”. Pois saibam que o Barba Ruiva não se assustou nem um pouquinho com as periquitices dos seus novos vizinhos. Passou a cantar até mais alto do que antes.

Hoje ele vive sozinho, sem companhia, pois todas as suas antigas fêmeas já morreram. Será que, de toda a população do meu quintal, foi só o Barba-Ruiva quem se esqueceu de morrer? Ou, quem sabe, ele de fato já morreu e agora virou apenas obsessivamente uma lenda dentro da minha imaginação?

Estou até achando que ele não tem mais uma presença física. Virou pura canção! É como se fosse uma dessas gravações repetitivas que hoje muito se usam dentro dos brinquedos sonoros das crianças.

N.B.

E não se assustem se eu falei em trinta anos a idade deste matusalém canoro. É que ele já está há tanto tempo lá em casa que eu até perdi a conta da idade dele.

sábado, 31 de julho de 2010

O REIZINHO DAVI CHEGOU



Hoje, domingo, sem atraso nenhum das companhias aéreas, foi na hora exata que o meu neto chegou.

Donde foi que ele chegou tão de repente assim?

Só pode ter estado escondido numa máscara de dias e dias, a máscara engana-vovô que o tempo às vezes pode nos promover.

Como quer que seja, na hora em que o menino chegou eu fiquei feliz DAVIda.

Adivinharam o nome dele?

E o Davi também ficou feliz por ser o mês de julho, quando existe pinhão e mais pinhão em todos os mercadões e mercadinhos, e aí entrou em cena o vovô ensinando o neto de cinco anos a descascar pinhões com uma maquineta de madeira, espécie de mini-prensa que faz o pinhão jogar a língua para fora. Gostaria que vocês vissem, meu neto gostou tanto da brincadeira que está até agora espremendo pinhões e os oferecendo para todo o pessoal da casa.

Depois a minha filha Márian, a mãe do Davi, ligou e ele não atendeu a mãe, de tão frenético que tinha ficado operando aquela chuva seca e sólida que descia das araucárias.

E a Sílvia, minha esposa, então resolveu me reclamar:

- Por que foste dar este brinquedinho para ele, se já é hora dele almoçar?!

Minha nega, tive vontade de responder, como é que a gente vai negar brinquedos a uma criança?!

Mas na hora resolvi melhor, voltando uma geração para trás no tempo, e respondi:

- O meu pai sempre me negou brinquedos, e foi por este motivo que eu me tornei um homem tão sério!

Fiz o meu ar mais trágico, e continuei explicando:

- Meu pai encheu a nossa casa de livros a ver se assim conseguia tornar o seu filho um grande intelectual, ou pelo menos um eficiente engenheiro ou doutor.

E foi graças a esta proximidade com os livros que eu me tornei um POETA, ou PATETA, como querem os classe-média da vida.

E como se não bastasse esta emoção que estou tendo com a chegada do neto, o Grêmio vai jogar às quatro da tarde lá no país das Minas Gerais. E o pior, o meu Grêmio já está descendo garbosamente para a zona de rebaixamento, como, aliás já tem acontecido noutros períodos da sua história. E, queiram me desculpar, mas eu já estou ficando de coração na mão.

Grêmio é Grêmio. Apesar das turbulências, apesar dos altos e baixos com que tem torturado os seus fãs, o Grêmio, mesmo de camisa toda rota e brincando de esconder com a mediocridade e a falência muito próxima, o Grêmio continua sendo a minha maior honra, a minha nobreza, ou mais ainda, a verdadeira razão da minha existência.

Depois fico tentando caminhar um pouco pelo apartamento, pois que hoje eu ainda não saí de casa, quando de repente o neto me mostrou o lugar banguela donde tinha caído ontem o primeiro dente de leite da sua boca. Enquanto isso, está passando na tela de TV o filme “Noviça Rebelde”, um dos filmes mais-mais, com a insubstituível Julie Andrews no papel. E a Silvia está saindo de casa para ir buscar a minha sogra para o nosso almoço.

Minha felicidade vai se completar amanhã quando a minha filha vai chegar do Rio.

Logo ficou mais interessante o ambiente por causa do Skype que nós conseguimos conectar com Marian, daqui para o Rio de Janeiro e vice-versa. Vejam que bela tecnologia, pois o Davi, que não aceitou falar telefone com a mãe dele, agora, pelo Skype, já está um tempão animadamente conversando com ela pela linha direta, frente a frente. O fato é que a imagem foi bem mais forte para o menino do que o som do telefone.

Olho para o que está acontecendo agora e vejo que de fato somos uma família, com parentes de todos os lados. Pelo Skype.

Enquanto estou olhando como é verdejante o nosso lar doméstico, êpa!, que de repente aconteceu um problema que fico discutindo com a Sílvia:

- A gente deve ou não deve deixar o neto brincar num computador de verdade??? Será que ele não vai anarquizar completamente com este nosso computador???

Nota de agradecimento:

Com muita boa-vontade e afeto de filha, esta minha fotógrafa usou de toda a sua técnica e maestrias mil para inventar uma fotografia melhor do que aquela que eu tinha posto no Perfil deste meu blog.

Portanto, a minha nova foto neste blog é de autoria da fotógrafa Márian Starosta, a qual, além de me fotografar, encheu de coisas bonitas a minha cara e o meu coração.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

ALGUÉM QUER SALVAR A LITERATURA?


Conheci o Prof. Luiz-Olyntho Telles da Silva quando cursei as disciplinas pedagógicas da Faculdade de Letras, onde o assunto que ele lecionava atendia pelo nome soleníssimo de “Psicopedagogia do Desenvolvimento Individual”

Luiz-Olyntho, ou “o Telles”, como o tratávamos, logo nos chamou a atenção como um professor diferente dos outros, porque ele era simpático e sorridente.

Um certo tempo depois eu soube que ele exercia profissionalmente a Psicanálise. E mais, que o seu paradigma estava nas idéias de um psicanalista dissidente de Freud que se chamava Jacques Lacan, cujas filosofias, para mim muito complicadas, nunca consegui entender bem. Mesmo porque sempre sofri de uma certa resistência a qualquer ciência que adquire foros de cidadania. Materialismo. Fenomenologia. Psicanálise. Quando caem na boca do povo, acabam servindo de rótulos para tudo. Neurose. Complexo. Recalque. Repressão. "Não se assustemo", como diz o gaúcho, Freud tudo explica. São palavras mágicas que até letra de samba podem se tornar.

Eu não tinha recalque,

Eu não tinha complexo,

Minha vida era boa e calma...

Mas voltemos ao Telles.

Uma época, lembro, ele passou a formar grupos de estudo, e eu assisti a algumas das reuniões, em que, paralelamente à Psicanálise propriamente dita, a gente cogitava sobre filosofia grega, cinema, obras de arte e até de poesia. Passei a admirar que ali, além de psicólogo, estivesse um verdadeiro pensador unindo ciências e artes numa só Cultura Global. Palmas para ele!

E, de repente, além de todas essas capacitações que enumerei, o homem me aparece dando palestras relativas à leitura das obras de ficção.

Convidado por uma pessoa nossa conhecida comum, passei a assistir às palestras do Telles, sempre de pé atrás, como é do meu feitio nessas ocasiões.

A gente teria de ler os livros que ele estivesse indicando e depois comentar e debater com ele uns trinta dias após a leitura de cada um.

Cheguei a pensar que não seria pertinente um psicólogo invadir a área dos historiadores e críticos literários. Mas, de repente, eu tive lá no âmago das entranhas, uma centelha de bom-senso me mostrando que eu mesmo, o Isaac Starosta, fui durante muitos anos dentista e escritor simultaneamente, então por que não admitir que um psicanalista possa fazer o mesmo que eu?! E até me surpreendi ao conhecer contos do livro que Telles escreveu e publicou, os “Incidentes em um ano bissexto”. Requintes de linguagem. Paisagens de cidades exóticas. Reminiscências na base do bom-humor. Livro forte, a palo-seco e de recorte original.

Em suas palestras ele se houve bem, mesmo falando de livros difíceis como o “Senhor Embaixador”, de Érico Veríssimo, e o “Ulisses”, de Joyce. Este último, pela síntese e o colorido da exposição de Telles, até me despertou a ambição de um dia desses estudá-lo em profundidade.

E chego agora ao final com a consideração mais importante deste artigo. É que participei alguns anos, como escritor, em “Encontros com alunos do II Grau”. Nossa tarefa era atrair os alunos para os textos literários. Mas, mesmo promovendo uma fonte de identificação para os jovens com a figura dos escritores, faltou-nos causar maior receptividade às nossas gloriosas obras.

Hoje, porém, sob a iniciativa do Prof. Telles, estou vendo a perspectiva promissora de usar o espaço das próprias livrarias para aproximar os livros dos leitores, sendo que desta vez os livros são apresentados como objetos de valor em si, e não, como eram antes, mera projeção das personalidades dos autores.

Sim, tal iniciativa pode proporcionar um melhor conhecimento dos livros aos leitores que queiram aprender mais, assim como também satisfazer a curiosidade das pessoas que eventualmente se aproximem da livraria naquela hora.

Creio que a melhor apresentação do Telles até agora foi a do livro “O Filho Eterno”, de Cristóvão Tezza, com o número e o nível dos participantes muito alto e uma empatia muito forte entre os leitores e o palestrante, e entre os leitores e o próprio texto instigante.

Sabe-se que a Literatura é uma coisa maravilhosa, mas, para exercer o seu papel, precisa que as pessoas acreditem nela, que as pessoas saiam de vez do seu estado de descrença nos valores espirituais.

E, mais ainda, para chegar a tal ponto é preciso que alguém aceite e assuma a responsabilidade de mudar a cabeça das pessoas.

Vejam que é um papel muitíssimo difícil.

E quem aceitou assumir este papel, e o está desempenhando para lá de bem, é o Prof. Luiz-Olyntho Telles.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

ABRAÇO DE URSO

Pensando bem, o abraço de urso com o maestro Francis Padilha foi benéfico para o meu desempenho como cantor. Foi um abraço “allegro molto expressivo, e sem nenhuma conotação pessoal.

É que eu precisava de um desempenho convincente como coralista, além de outros motivos, pela situação especial que se criou de eu estar funcionando ultimamente, por falta de companhia, como o único baixo do Grupo Zemer. Felizmente os naipes de soprano e contralto têm um número razoável de cantoras.

Seja por qual motivo for, o meu naipe inteiro só tem uma voz de baixo e eu sou esse único componente precisando cantar por todos os que deviam estar ali e não estão. A minha voz, única, quase como de um solista, aparece demais, e, em vista disso, me deixou preocupado com o meu desempenho, mas graças a Deus, pelo entusiasmo com que o pessoal me cumprimentou, eu devo ter até cantado bem.

Na realidade, a preocupação maior que deve ter um músico, seja ele instrumentista ou cantor, é a de se concentrar fielmente nas coisas que o senhor maestro está pedindo.

Daí a extrema importância que pode adquirir um abraço de urso, para nos aproximar melhor de quem nos comanda. Abraço que, segundo esta minha recente experiência, em muito facilitou a compreensão dos gestos de um comandante pelo seu comandado. Gestos que, em vista do poder intuitivo que todos nós temos, ainda funcionam melhor do que a comunicação falada mais alta que possa existir.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

DICIONÁRIO DE IDÉIAS


UM DECÁLOGO, ENTRE OS VÁRIOS POSSÍVEIS:

1. Minha verdadeira casa é a rua.

2. Meu amor é por todas as pessoas.

3. Escrevo o teu nome no rol da roupa, nos guardanapos, nas paredes nuas, nas folhinhas dos cheques. - Escrever é dar nome aos amores mais impossíveis.

4. Política: só vale quando a nossa fome de Infinitos já está satisfeita por outros meios.

5. O importante antigamente era ter um ideal. Hoje, é cada um ser um número para alimentar o Sistema.

6. Gostar de ser elogiado é humano; agora, porém, convenhamos, acreditar no elogio – que costuma ser temporário e sujeito a revisão como qualquer das coisas humanas - é burrice.

7. É melhor descrer de qualquer faísca de felicidade quando estamos dentro de algum caminho que nos parece o mais certo e definitivo!

Felicidade é quando ando vazio e desorientado e de repente me descubro feliz em meio à confusão dos olhares que se procuram dentro da neblina, de preferência dentro de um Parque com árvores esbeltas e a passarinhada cantando coisas aparentemente ditadas por um Poder Superior...

8. Só se sente abandonado aquele que abandona os companheiros em meio à luta.

9. Deus sabe o que está fazendo. Mas Ele, coitado, não tem nem a mínima capacidade, que nós temos até demais, de se queixar de Deus!...

10. Só amamos a Deus sobre todas as coisas, porque Ele não sabe disso. Se soubesse, Ele não deixava nós sermos tão ingênuos assim.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

POEMAS AO PORTADOR


“Poemas ao Portador” foi o meu livro de estréia, ou melhor, o meu segundo livro, porque o primeiro tinha sido “Nossa Geração”, onde me coube escrever, como colaboração, umas dez páginas, pois era uma obra coletiva editada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

“Poemas ao Portador” foi um livro muito significativo. Lembro que o editor, Carlos Jorge Appel, sempre foi uma pessoa culta e muito animadora para os novos escritores gaúchos. Praticamente este livro resultou de uma insistência dele. Um dia ele passou pelo meu consultório de dentista para bater um papo, e começou logo me deafiando: “como é que vai este poeta que não quer ser poeta?” Depois, pelo resto do tempo, ele insistiu me aconselhando a não desistir da minha vocação.

Para a publicação do livro, o amigo Alberto Crusius, que foi o inventor do título “Poemas ao Portador”, muito me ajudou na revisão e na divulgação também.

Mariléia de Castro escreveu a orelha e um artigo de apresentação do autor e da obra no Correio do Povo, de saudosa memória, pois lá no Correio os nossos escritores, além de terem bom espaço para publicar, inclusive no portentoso “Caderno de Sábado”, ainda eram convidados para os coquetéis da Empresa e às vezes até recebiam um cachê de consolação.

Agora que eu já me tornara oficialmente um escritor, a diretora do Instituto Estadual do Livro. Lígia Averbuck, me convidou a participar em Encontros com os alunos de II Grau.

Por essa época fui vencedor no Concurso Garcia Lorca, organizado pela Associação Riograndense de Imprensa e cuja comissão julgadora era presidida por Mário Quintana.

Logo após a minha estréia em livro tive um problemão:

- E agora, Isaac, que tu já estás lançado como escritor, o que vais fazer para continuar escrevendo? Vais continuar a mesma obra, ou vais inventar tudo novo a partir de zero?

O fato é que muita gente gostava de criticar, para que serve ser poeta, ou escritor?

Hoje sei que poeta não é rimar anil com Brasil, não é sair por aí declamando nos bares enfumaçados nem é abrir uma remessa de telegramas poéticos para festas.

A única utilidade dos poetas, e isto por si só justifica o escrever, é o desabafo que vem lá do íntimo e os reconcilia consigo mesmos e com a sociedade.

E uma das maiores satisfações minhas foi ver o meu livro “Poemas ao Portador” fazer ótima impressão a Mauricio Rosenblat, grande amigo de Érico Veríssimo e fundador da Feira do Livro de Porto Alegre. Um dos poemas do livro que Mauricio mais apreciava era “A Carne”, que vou apresentar agora.

A CARNE

De Isaac Starosta

Era distante a carne.

Cheguei perto.

A carne era de pedra.

Recusei.

A carne era musical.

Dancei mal.

O jogo era muito alto.

Rastejei.

Entre ouros, rei sem naipe.

Perco. Insisto.

Carne é isto.

domingo, 20 de junho de 2010

GREMISMO


Vamos prosseguir em ritmo de autobiografia.

(Para o texto que vem agora, confesso que pensei inicialmente no título GREMIOMANIA, mas como este nomeia uma série de lojas de material esportivo, optei pela denominação pouco gramatical de “gremismo” para acertar na mesma mania).

Não é de hoje.

A minha ligação com o Grêmio Porto Alegrense é umbilical, existe praticamente desde o dia em que nasci.

A paixão pelo futebol me levou a jogar nas calçadas e nos terrenos baldios, me intrometer nas peladas dos marmanjos; mas logo notei que eu entrava estabanado, que não ia conseguir me organizar, eu me passava da bola, ou chegava tarde no lance, sem me afinar com as ações dos outros e com a velocidade da bola. Ao correr atrás, em vez de disputar frente a frente as jogadas, eu só sabia gritar, gritar, e transmitir o jogo como um locutor esportivo: fulano passa para sicrano, vai chutar, perdeu o gol com a goleira aberta! A minha devoção pelo Grêmio me fazia transmitir o jogo nomeando os meninos assim: Ramon Castro para Ramoncito, este para Beresi, Beresi perde a bola, então vem Clovis Touguinha (o centromédio) pela retaguarda e salva quando o goleiro Julio já está vencido. Ou seja, batizei os meninos do meu time com os nomes de jogadores titulares do Grêmio, como se estivessem disputando uma partida oficial!

Sempre me aconteceu sofrer, e às vezes me alegrar, por um gremismo inveterado.

Meu filho mais velho, Amilcar, estava com o Grêmio, sempre me acompanhando a qualquer jogo no Estádio Olímpico, situado no bairro da Azenha. Naquele tempo éramos pobres e eu precisava de muita economia e sacrifícios diversos para manter em dia os cartões de sócios meu e do filho, e assim éramos assíduos aos dois campeonatos, o gaúcho e o nacional.

Ao vir a campo tínhamos já preparados os nossos gritos de guerra:

- Aperta que ele geme!

- Bola pro mato que é jogo de campeonato!

- Dá-lhe Grêmio, dá-lhe Grêmio, nós somos campeões!

E tudo criava força, era mais divertido.quando nós, ali no meio do povão, nas arquibancadas descobertas, apanhávamos frio, chuva, papel pegando fogo e saraivadas de foguetes, como convinha ao rigoroso inverno gaúcho.

Primeiro me acompanhava o Amilcar, depois o Xande, os dois de tez morena, e meu filho mais alourado, o Mauricio, gostava de ir ao futebol mais para comer pipocas e cachorro quente. O gremismo militante de Maurício não era o futebol, mas um pianismo, que o levava a tocar piano o dia inteiro e freqüentar todas as apresentações de pianistas, ele mesmo também fazia, sempre que possível, seus recitais.No caso eu e o Xande até criticávamos que os pianistas não querem se misturar com a plebe rude.

E com a minha filha, Márian, a coisa ficava até cômica, ela sentada, ao meu lado, comendo sorvete, lendo uma revista, e de vez em quando virava para mim querendo saber, pai, para que lado o Grêmio está chutando? Quem fez o gol? E por que todo mundo está chamando o juiz de Filho da...?

E até hoje, por mais que eu queira evitar, toda a vez que o Grêmio perde eu entro em pânico, Até pensei que, pela idade, a gente se impressiona menos com certas coisas, mas, no caso do Grêmio me parece que estou ficando mais emotivo ainda, com latejamento insuportável na cabeça e na boca do estômago. Angústia profunda.

Nessas horas eu não como. Não durmo. Só falo sem parar. E quando eu desacato a arbitragem, a Diretoria do Clube e os jogadores, aí vem o Xande bronquear comigo, como que me culpando por eu tê-lo feito ser gremista, e se queixar amargamente da direção do grêmio:

- Estes cartolas do Grêmio não são de nada. Em vez de contratar um Pelé para reforçar o time, contratam um jogadorzinho qualquer...

- E se não puderem contratar, o que vais fazer?

- Ora, muito simples, vou detonar o meu cartão de sócio!

Mas nunca detonou. Pois aquele emblema do Imortal Tricolor sempre vai resistir a todas as detonações possíveis.

Ainda falta contar o caso de Ângela, minha colega da época em que eu estudava violino na Universidade. Nessa mesma época ia acontecer a decisão da Taça Libertadores da América pela primeira vez na história dentro do Estádio Olímpico. Imagina que honra para o Rio Grande do Sul. Era o ano de 1983, se eu estiver enganado alguém me corrija, por favor... Mas qualquer que fosse a data, mais importante é que era o evento de maior expressão de toda a História do meu clube. Pois o Inter, arqui-rival de meu clube, tinha até beliscado, nos anos 70, o tão cobiçado título, mas ainda estava longe de alcançar.

Agora, vinha a decisão do título sul-americano e era entre o Grêmio e o Penharol de Montevidéo, em plena Porto Alegre, naquele estádio da Azenha que nós todos tão bem conhecíamos. Era uma quarta-feira à noite, pelo menos é o que me parece.

Mas o chato foi que coincidiu a hora do jogo com a de uma prova de Violino que eu teria de fazer na Universidade. Aí pedi à minha colega Ângela para avisar ao Professor que por um motivo de força maior eu não poderia comparecer.

- Que motivo de “força maior” é este que você está alegando?

- Imagina, cara colega, se eu vou faltar ao jogo de decisão da Libertadores a acontecer pela primeira vez na História dentro do Estádio Olímpico Tricolor!

Eu tinha certeza que ela iria me responder, porque era uma pessoa boazinha e simpática, “sim, Isaac, eu te compreendo muito bem”. Mas que nada, ela ficou o máximo de furiosa, como eu nunca tinha visto antes acontecer com ela:

- Tu, Isaac, que sempre foste ótimo no violino, colega prestativo e indispensável a todos nós, agora, assim, de repente, só por causa do futebol, vais botar tudo a perder?!

- Só por causa do futebol! – arreganhei os dentes e soltei uma risada monumental. Pois achei que era muito risível alguém querendo me convencer que o violino é superior ao esporte mais popular que existe.

E ainda pedi a ela, em nome do nosso amor à música:

- Vou pedir que tu não contes a ninguém a razão de eu ter faltado à prova, porque amanhã ou depois, quando eu encontrar o Professor, vou dizer a ele que eu estive doente.

- Doente sim, ela insistiu, com a voz muito queixosa, o futebol deve ter te deixado completamente doente para você fazer isso.

- Completamente com doente, até rimou, eu brinquei com ela, para desanuviar o ambiente.

Acabei logo me afastando do Curso de Violino. Afinal, eu não me tornaria um profissional. Tocava de vez em quando só pelo prazer de tocar, então para quê estudar tanto, cansar os meus braços para conquistar mais um diploma no meu currículo de amador de todas as artes?!

.- Mas você precisa - Ângela me corrigia - continuar desenvolvendo uma técnica para poder tocar melhor.

- Também - eu justificava - conheço gente que desenvolveu grande técnica mas nem por isto conseguiu se tornar um Paganini.

E festejei:

- A Libertadores é nossa! Com o Tricolor não há quem possa!

Desinibido, me juntei aos torcedores, e fomos comemorar o título sul-americano em plena Rua da Praia.

- Até a pé nós iremos, para o que der e vier, mas o certo é que nós estaremos com o Grêmio onde o Grêmio estiver!

Depois daquele ano de glórias, nós gremistas passaríamos muitos e muitos anos sem grandes títulos a comemorar.

Assim nós nos temos recolhido à nossa mediocridade de time periférico.

Mas o que fazer? Um dia é da caça, e dez anos são do caçador!

Por que eu não resolvi torcer para o Palmeiras de tantas glórias, ou para o São Paulo, que também é um tricolor?! Para o Flamengo não, nunca na vida, pois ele é colorado igual ao Inter. Ou quem sabe torcer pelo Santos de Pelé?

Mas, pensando bem, para quê eu ia deixar o Grêmio se ele chegou a ser melhor do que uma prova da Universidade, melhor do que o Inter, melhor do que as intrigas e os fuxicos de casa e do Escritório?!

O Grêmio derrubava qualquer veleidade cotidiana de quem quer mais sucesso pessoal, divulgação, dinheiro. fama. O Grêmio era todas essas coisa e muito mais ainda se a gente saísse de fronte erguida carregando por toda parte o pavilhão tricolor!

Depois, a gente via o Paulo Santana agitando pra lá e pra cá a bandeirinha do Grêmio, na televisão.

Pode ser até ingenuidade querer a um time de futebol, dar corpo e alma, dar tudo de bom por ele, assim como também é ingenuidade querer ser campeão em economia, finanças, e recordista em transições de imóveis!

Os senhores aí que me desculpem, mas o futebol é a coisa mais móvel que existe!