domingo, 26 de dezembro de 2010

CRONICA DE ANO - NOVO


CRÔNICA DE ANO-NOVO

Isaac Starosta

Já foi costume se dizer “ano-novo, vida nova”, mas hoje eu não exijo nada de novo da minha vida, basta continuar a viver, para amar, para ver os filhos melhorando de vida, para ver o Grêmio em Dubai sem fazer fiasco. Basta continuar, o mais do mesmo. Deus já me deu muito mais do que eu esperava.

Mas a sabedoria não tem limites. Se estou vivo, é pelo que ainda não sei.

A mudança de ano é uma novidade que vai passar num instante. Logo o novo ano vai nos dizer que está ficando velho. E nós vamos passar pelos mesmos lugares, cada dia igual, cada sensação igual, e quando alguém morrer, vamos repetir o mesmo adágio “que bom que não fui eu”.

Viver é uma doença, é sim, mas uma doença que traz em si a própria cura. Os cabelos vão ficando brancos. As idéias vão ficando brancas. E a gente ama cada vez como se fosse a última.

Quando estamos num restaurante estilo francês praiano, onde a gente come uma vez por ano, cadeiras na calçada, noite de praia, brisa do mar, é quando a gente comenta um para o outro: é a melhor coisa que eu já comi. O que se come só uma vez pode ser melhor do que tudo. Melhor do que o nome, melhor do que a fama, melhor do que o Prêmio Nobel.

As coisas são boas. As coisas superam nossos planos. São coisas, apesar de indefiníveis, e quando elas se repetem e vão ficando crônicas, elas admitem pelo menos uma crônica como esta.


segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

NOVO POEMA

Oba, acabei de escrever um novo poema!

Se me perguntarem por que você escreve, vou responder que, primeiro, porque a palavra escrita é a minha cachaça, e, segundo, porque enquanto houver tinta na minha caneta, meu sangue continuará circulando.

EXPERIÊNCIAS

De Isaac Starosta

Vou contar as minhas

Experiências

Não as mais íntimas

Pois estas competem

Aos repórteres

E aos cineastas

Quem ouvirá o meu solo

De clarineta

Quando nem o sol

Ainda é chegado?

Um dia me chamaram de

O Rei do Papo Furado

Debruçado

Sobre a minha história

Só vejo três datas:

A que nasci a que morri

E no meio

Um nó de complicação

Que nem vale a pena cortar...

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

EUREKA



Eureka, gente minha querida.

Eu fiquei deveras contente, além de radiante e exultante também - chega de adjetivos? Tudo só porque um leitor deste blog, o Marco, que me conhece da loja de discos do Ivan, pediu, em comentário, que eu falasse doravante sobre a Música Erudita. (abro parêntese para pedir que cada leitor deste blog me lance os assuntos sobre os quais gostaria que eu discorresse, tal como o Marco está fazendo agora).

Começaremos falando em Cesar Franck, que nasceu em Liège, Bélgica, e viveu em Paris, França. Por isso os entendidos o consideram um compositor franco-belga, e assim também o violinista a quem C.Franck dedicou sua sonata em Lá Maior para violino e piano: Eugene Ysaye.

Por falar nisso, não sei se sou mais ligado aos parentes ou aos parêntesis. (Tudo começou com a minha irmã, Annita, a quem vai aqui um preito de gratidão. É que minha irmã foi a chave principal para a minha inserção na música erudita. Dia e noite ela tocava piano. Tocava com sinceridade, sensibilidade, sentimento e, principalmente, com autoridade. Sendo que, entre os pianistas amadores, o que se nota em geral é, pelo contrário, vacilação, falta de dedos, muitas vezes falta de alma também. Minha irmã, além do mais, tinha gosto, interpretação e paixão, não sei como conseguia se transfigurar espiritualmente e tocar obras maiúsculas de Chopin, Lizst e Schuman. O que lhe faltou foi ultrapassar os vinte anos com a mesma aura pianística que a tinha motivado na infância e na adolescência. A idade adulta pode ser, às vezes, a maior inimiga de uma vocação artística).

Posto isso, voltando ao nosso assunto, penso que Cesar .Franck tem obras importantes para órgão (ele foi organista profissional), para piano solo, piano e orquestra, uma Sinfonia monumental em Re, e música de câmara de alto nível Acredito, porém, que a sua obra de maior aceitação é a sonata em La para violino e piano. Aqui em Porto Alegre, tal obra foi apresentada em concurso para professor de violino no Instituto de Artes. Tão grande tem sido o sucesso da sonata que, coisa rara, ela chegou a ser transcrita para cello, flauta, viola e outros instrumentos.

Como o destino das grandes músicas é encontrar os grandes executantes, esta sonata magnífica chegou às mãos do grande violinista Eugene Ysaye, que a estreiou, em 16/12/1886, com Madame Bordes-Térne ao piano. Aliás, além de Franck, Ysaye foi impulsionador de Saint-Saens, Chausson, Lekeu, Gabriel Fauré, do lado francês. Paralelamente, o violino romântico alemão foi impulsionado pelo grande violinista judeu-alemão Joseph Joachim, que lançou as obras de Brahms.

Convém notar que numa das primeiras vezes em que Ysaye executou a sonata foi a pedido da Sociedade de Música Moderna de Paris.

Quanto às gravações, pesquisei e encontrei o seguinte:

1. De acordo com “The Book of the Violin” (Dominic Gill, Phaidon Press, 1984, p. 143), a melhor é a de KYUNG – WHA CHUNG, com Radu Lupu ao piano.

2. O mesmo livro cita gravações mais antigas, como as de Jacques Thibaud/Alfred Cortot, e Yehudi Menuhin com sua irmã Hephzibah ao piano.

3. Parece incrível, passados 25 anos, consulto o Penguin Guide, e a melhor gravação desta sonata continua sendo a dupla CHUNG/LUPU (só não sei se este CD ainda se encontra disponível em algum lugar.

4. O Penguin fala também de uma gravação da sonata de C.Franck, reeditada pela DG (Deutsch Gramophon), com uma dupla polonesa: Kaja Dancrowska no violino e Krystian Zimerman no piano, interpretação dramática, fogosa e firme de linhas.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

MELVILLE


Quando o pensamento de Melville (citado por Vila-Matas na sua obra “Bartleby & Cia”) elogia o ser humano por ser capaz de metamorfosear-se, lembra-me imediatamente uma das maiores revelações das minhas leituras: Kafka, em “A Metamorfose”, transformando-se numa barata para escandalizar os seus acomodados parentes.

Até quando não provocamos escândalo nenhum, estamos provocando também, porque o nosso silêncio estará desafiando o tempo todo àqueles barulhentos que não cessam de ovacionar os ídolos de barro que estão na moda.

Cito agora, textualmente, o pensamento de Melville, conforme traduzido por Vila-Matas:

“Melville, en The Confidence Man, transmite una clara admiración hacia el ser humano que puede metamorfosearse en múltiplas identidades”

Baseado nesta metamorfose melvilleana, apresento o meu próprio exemplo de como me aconteceu de mudar constantemente de atividades profissionais.

Assim, a publicação da 2ª edição de “Porto dos Casados” (Ed. Ática, 1979), meu primeiro romance e Prêmio Nacional, motivou que eu me desligasse um tanto do fazer literário, pois já havia conquistado o Grande Prêmio que eu queria, e que, de certa forma, tinha me convencido de que eu já era alguém.

Simultaneamente, eu já constituía nova família, novas bocas para sustentar, e nada melhor então do que confiar no meu velho ofício de Periodontista, para me integrar ao departamento preferido, dentro da minha diplomação de Dentista. Além disto, um tempo depois eu ainda me reintegrava numa velha ambição: a de tocar violino.

E o meu segundo romance aos poucos foi sendo escrito durante os últimos quinze anos, e, quanto mais pronto ele me parece, mais eu encontro como necessárias, novas e novas revisões. Até hoje.

Outra coisa que nunca cessei de fazer, foi os poemas, são a água que bebo desde a mais recuadíssima infância. Fui poeta infantil nato, daí passei a ser estudante de Química, de Filosofia, depois dentista profissional. E, além do mais, pretendi melhorar a minha Literatura, e o conhecimento literário em geral, através de fazer uma Faculdade de Letras, que é mais uma das buscas na minha eterna adolescência.

Recapitulando: fui escritor, poeta, violinista, periodontista, e ainda, antes que eu me esqueça, estudante de Letras.

E, convenhamos, quem me dá uma baita força é Melville, quando elogia fervorosamente aquele ser humano capaz de metamorfosear-se.

Assim acontece na vida, quando me transformo nas mais diversas identidades, em busca de alcançar UMA COISA SÓ, que talvez nem exista.

Uma das minhas maiores preocupações atualmente é estar gostando muito, muitíssimo de escrever para este meu blog “Tavesseiro de Idéias”, estou sentindo como essencial esta comunicação, mas, ao mesmo tempo eu gostaria de maior interatividade com os leitores.

Daí eu peço, encarecidamente, que os leitores se posicionem a respeito de minhas idéias, e de como posso fazer para melhorar e tornar mais interessantes os meus textos.

Obrigado.