quinta-feira, 16 de junho de 2011

BLOOMSDAY


BLOOMSDAY

Isaac Starosta

Hoje, dia 16 de junho, Isaac Bloom chegou cedo para correr em redor do campo de futebol de um colégio religioso. Lembrou-se de criança quando, num gramado análogo, adorava ver os outros meninos jogando uma bola redondinha enquanto ele, sempre que tentava chutar, errava em bola; mas não precisava mesmo acertar porque o pai de Isaac, pertencente ao povo eleito, elegeu o filho para vencer nas Ciências e nas Letras.

Agora Isaac Bloom, correndo na pista, olha para as damas que se exercitam nos aparelhos de ginástica. Elas usam roupas colantes que embelezam mais ainda suas formas. Isaac Bloom acha errado as mulheres, que podem vencer pela sua simples beleza, quererem se esforçar tanto diariamente para vencer mais ainda.

Os automóveis em volta são muito barulhentos – Garanto que em Dublin nunca houve tantos ruídos assim – reclama Isaac Bloom, que ainda precisa tomar o café da manhã, passar no Escritório, ler os jornais e ir até o Colégio Israelita buscar os netos.


quinta-feira, 9 de junho de 2011

NO PARQUE


NO PARQUE
Isaac Starosta

Achei bom submeter aos leitores à segunda forma do mesmo poema da postagem anterior. Trabalhei, sintetizei, tornei o poema mais poemático. Pois me ensinou o mestre Drummond a não fazer poemas sobre locais, datas, acontecimentos, nem sobre a merencórea infância, ou seja, o poema não é a circunstância da gente. Poema se faz com PALAVRAS.

Acho que valeu a pena trabalhar um pouco mais pois com isto eu encontrei um jeito melhor de dizer o parque.

Vocês não acham também?

NO PARQUE

Isaac Starosta

Andando pelo parque

Desisto de minhas antigas

Rebeldias gratuitas

Aqui meu compromisso

É de andar só por andar

No lépido e certeiro caminho

Seguir meus próprios passos

Aqui não preciso andar

Com sanduíches nos bolsos

Nem máquina alguma

Que me fotografe o caos

Andando entre os verdes

Esqueço um pouco

De ser o que não sei

quinta-feira, 2 de junho de 2011

CAMINHANDO PELO PARQUE



Hoje acordei bem cedo, com vontade de escrever e caminhar.

Saí então de casa, com uma cadernetinha na mão, para anotar tudo o que rolasse de uma caminhada sem fim.

Gremismo (II)

Estou numa recaída de Gremismo agudo.

O Grêmio ia super bem. Com o Renato de técnico, era franco favorito para o título do Gauchão. Não sei se foi salto alto, só sei que de repente entornou o caldo, pois o favoritismo sempre é perigoso, muita presunção, torcedores cantando vitória nas estações de rádio e jornal, brigas de microfone, dirigentes denunciando irregularidades, declarando de tudo e logo depois proibindo novas declarações. E o Grêmio cantado e decantado em prosa e verso até que, alegria em casa de pobre dura pouco, perdemos em cinco minutos, nos pênaltis, todos os pontos acumulados durante meses.

O pior é que eu tenho tido uma vocação congênita para perdedor. Nas décadas de 40/50, quando eu era ainda um menino, o Grêmio perdia sistematicamente para o Rolo Compressor do Inter. Não sei por que, mas eu adquiri, desde aquele tempo, uma simpatia irresistível pelo perdedor. É que o perdedor sempre renova as esperanças de melhorar, jogando, perdendo, jogando de novo, afinal não vai perder sempre, vai que um dia.

O Grêmio perdia, perdia, porém um dia, somando a minha fé com a de outros torcedores, é bom que nem se saiba quando, um dia o Grêmio haverá de se levantar.

Agora voltando a caminhar, estamos chegando no Parcão, que uma vez foi a sede do grêmio, no Estádio da Baixada, vemos assim como tudo se liga, caminhando pelo Parque, além dos benefícios físicos e mentais, estou um pouco voltando à infância neste belíssimo recanto de canários, patos, tartarugas e gente linda, como convém a qualquer parque que se preze.

CAMINHANDO PELO PARQUE

Isaac Starosta

Andando pelo Parque

Desisto de ser um filho rebelde

E em compensação desisto

Também de ter um pai

Muito rigoroso

O Parque é o único caminho

Que me leva a um hoje sempre

De todos e de ninguém

O Parque é o único caminho

Onde posso andar

Sem sanduíches nos bolsos

Nem toscas vontades

Na Imaginação

Sem máquina nenhuma

Que me fotografe o caos

Aqui andando retilíneo

Em meio aos verdes naturais

Esqueço um pouco

Os tortuosos desenganos

Onde sempre me perdi