quarta-feira, 23 de novembro de 2011

MENDELSSOHN


O GÊNIO MUSICAL DE MENDELSSOHN

Artigo de Isaac Starosta

Penso que Mendelssohn não renegou o povo judeu ao incorporar-se à cultura alemã. Ao converter-se a uma religião cristã, ele não se desprendeu da fonte maior de sua inspiração que é o veio inesgotável da música tradicional judaica, tanto religiosa quanto folclórica. A beleza e a majestade de seus temas musicais são dignas seja da vida pastoril dos seus antepassados mais remotos, assim como dos Reis, Rabinos, e Profetas da Bíblia, seja dos conjuntos Kletzmer do interior da Alemanha e dos Cantores sacros das grandes sinagogas européias.

Tão ligado à tradição judaica – sua família compreendia ascendentes rabinos e filósofos – jamais renunciou ao opulento legado artístico e cultural dos ancestrais, mas apenas ajustou o seu judaísmo às novas correntes culturais do Ocidente. Que não se vá culpá-lo por causa disso, já que, na realidade, não existe uma cultura pura e solitária, uma cultura fechada em si mesma. Todos nós estamos sujeitos às mais variadas influências. Há pouco tempo assisti a uma exibição musical de crianças judias onde a gigantesca maioria das músicas, algumas até compostas pelos próprios meninos, eram na linguagem do rock-and-roll.

O que tem havido com a música de Félix Mendelssohn é o esquecimento imperdoável dos séculos. Pois um compositor da estatura de Mendelssohn não devia ser lembrado por apenas umas duas ou três obras: a Marcha Nupcial que faz parte da suite “Sonho de uma Noite de Verão” que raramente tem sido executada completa; um trecho inesquecível do Oratório Elias: “Hear ye, Israel, hear what the Lord speaketh” (soprano), que às vezes é apresentado por solista e Coro; uma que outra Canção sem Palavras para piano, como, por exemplo, a Canção da Primavera. Afora isto, o homem é autor de centenas de obras pouco conhecidas, entre as quais sinfonias, sonatas, concertos, música camerística variada. Há pouco apareceu um DVD belíssimo com o Sexteto para piano e cordas de Mendelssohn por Yuja Wang ao piano, com a orquestra do Festival de Verbier . Existe ainda um disco gravado parte em Cd e parte em DVD, contendo o Concerto de Violino Op 64, o Trio Nº 1 Op. 49 e a Sonata para Violino em Fá Maior, um repertório todo de obras extraordinárias de Mendelssohn interpretadas por Anne Sophie Mutter, para a Deutsche Grammophon.

O esquecimento das obras de Mendelssohn foi provocado em grande parte por seus detratores, dos quais um dos maiores foi Richard Wagner, que escreveu o ensaio “A Música dos Judeus” apregoando que a música de um judeu-alemão como Mendelssohn vai soar sempre superficial e inócua porque não consegue desenvolver, por falta de vivência suficiente, as características autenticamente germânicas.

A verdade é que Mendelssohn, na sua genialidade, criou música que congrega várias culturas sem ser só judaica, só alemã, ou só italiana, por exemplo.

Mendelssohn é autêntico por si mesmo, pela intensidade do seu trabalho e pela genialidade de suas idéias musicais e filosóficas.

Jamais poderemos classificar Mendelssohn, e assim também Beethoven, ou Bach, ou Brahms, como valores de um país, de uma raça ou de uma religião específica.

Os grandes gênios são patrimônio de toda a humanidade!

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