sexta-feira, 11 de junho de 2010

CANTAR E CONVIVER

Olá, pessoal,

Comecei estas anotações em Uruguaiana, nossa linda Sentinela da Fronteira Oeste, do RS com a Província argentina de Corrientes.

A quem quiser uma atividade saudável, inclusive para os idosos, eu aconselho, com a maior convicção, que procure se integrar num agrupamento de Canto Coral dos tantos que afortunadamente existem em todas as latitudes deste país.

A bem dizer, a minha grande inspiração foi meu filho Amilcar, que mora no Rio e faz parte do Coral Canto do Rio, amador, porém de alta qualidade. Afinação, ritmo, timbres especiais etc. Esse grupo é regido por Paulo Malaguti, vulgo “Pauleira”, o qual apresenta um gênero popular estilizado, com arranjos próprios e passando do choro tipo Pixinguinha e Chiquinha Gonzaga, ao samba-canção, e deste para Bossa Nova e Tropicália, inclusive Chico Buarque, Egberto Gismonti e Villa-Lobos. Pode-se imaginar coisa melhor do que isso? Assim aconteceu, como é natural, de o filho, com o seu entusiasmo juvenil pela música, rejuvenescer um pouco o seu pai fazendo este voltar no tempo a uma etapa juvenil em que praticava o canto.

Pois agora, já de um tempo para cá, estou emprestando a minha voz cavernosa ao Coral Zemer (que quer dizer canção, em hebraico) da entidade beneficente Na’Amat Pioneiras. E nosso Coral não é de brincadeira. Cada um está trabalhando para melhorar o seu desempenho a cada ensaio e em cada nova apresentação.

Assim, de quinta-feira até domingo, dedicamos um fim de semana a Uruguaiana, onde participamos de um encontro de corais. Praticamente dez horas de ida e outro tanto na volta, de ônibus, pelo sacrifício da viagem já deveríamos ter ganho um monumento em praça pública.

Nosso Coral tem um repertório em três idiomas: o hebraico (bíblico e moderno), o ídish (dialeto germânico praticado pelos judeus durante os 2000 anos dispersos pela Europa), e o ladino (idioma hebreu-espanhol da Idade de Ouro e ainda hoje apresentado por cantoras como a brasileira Fortuna).

Além de nos apresentarmos duas vezes, uma no auditório da rádio Charrua, outra na Catedral de Uruguaiana, ainda assistimos bons corais, um da própria cidade regido por Helena Mohr, outros do interior do RS (Alegrete, Restinga Seca, Santa Maria, Santo Cristo), e ainda alguns provenientes da Argentina e do Uruguai (Artigas, Atlântida, Paso de los Libres).

Nosso Coral foi muito aplaudido e elogiado, porque além de sua qualidade (graças ao regente Francis Padilha e arranjos de Manuel Abreu) nós introduzimos um repertório original nunca dantes apresentado naquele local.

A minha experiência com as pessoas mostra que durante os primeiros ensaios do Zemer eu me encolhia diante dos colegas e do maestro, eu parecia um pré-adolescente, e quando precisava cantar em público ficava todo tempo com medo de errar, baixando o tom da voz, correndo os olhos da partitura para o público e deste para o chão do auditório. Veio uma época em que, para me reforçar, convidei Silvia, minha esposa, de bela voz, para cantar no Zemer, e nela então passei a escorar minha timidez, até que depois, como ela é do naipe de sopranos e eu sou baixo, fomos ficando mais distantes na hora de cantar, e, assim, tive de me fazer outras e outras vizinhanças.

E dessa vez, em Uruguaiana para um grande festival, eu me surpreendi convidando outros casais para passear conosco, conhecer Los Libres etc, e, na hora da apresentação do Coral, abracei demoradamente o Maestro Francis sem ver nada de estranho nisso, conversei um pouco com cada pessoa, trocamos anedotas e sorrisos e gentilezas, quando à espera da hora de cantar e também durante os intervalos. No café da manhã, no hotel, tratei do assunto “alimentação” demoradamente com uma série de pessoas de terceira idade.

E me senti agradecido ao Zemer, pois cantando recebemos verdadeiras aulas de Cultura: Hashiveinu é canção sacra de sentimento religioso, Zum Gali Gali, é cântico de ritmo bem marcado usado por trabalhadores para acentuar sua faina agrícola, e Kandelikas celebra a festa de Chánuca (das Luzes) no idioma ladino.

A atividade coral nos ensina ainda uma importante função, que é a respiratória, tanto para a atividade habitual dos pulmões como para cantar os tons e pronunciar as palavras.

Sem falar no mais importante de tudo, que para mim: o Coral Zemer está servindo para desenvolver a minha convivência social. Temos um grupo humano que se reúne para cantar. E os cânticos nos harmonizam como pessoas, para, juntos, convivermos melhor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário