segunda-feira, 28 de junho de 2010

POEMAS AO PORTADOR


“Poemas ao Portador” foi o meu livro de estréia, ou melhor, o meu segundo livro, porque o primeiro tinha sido “Nossa Geração”, onde me coube escrever, como colaboração, umas dez páginas, pois era uma obra coletiva editada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

“Poemas ao Portador” foi um livro muito significativo. Lembro que o editor, Carlos Jorge Appel, sempre foi uma pessoa culta e muito animadora para os novos escritores gaúchos. Praticamente este livro resultou de uma insistência dele. Um dia ele passou pelo meu consultório de dentista para bater um papo, e começou logo me deafiando: “como é que vai este poeta que não quer ser poeta?” Depois, pelo resto do tempo, ele insistiu me aconselhando a não desistir da minha vocação.

Para a publicação do livro, o amigo Alberto Crusius, que foi o inventor do título “Poemas ao Portador”, muito me ajudou na revisão e na divulgação também.

Mariléia de Castro escreveu a orelha e um artigo de apresentação do autor e da obra no Correio do Povo, de saudosa memória, pois lá no Correio os nossos escritores, além de terem bom espaço para publicar, inclusive no portentoso “Caderno de Sábado”, ainda eram convidados para os coquetéis da Empresa e às vezes até recebiam um cachê de consolação.

Agora que eu já me tornara oficialmente um escritor, a diretora do Instituto Estadual do Livro. Lígia Averbuck, me convidou a participar em Encontros com os alunos de II Grau.

Por essa época fui vencedor no Concurso Garcia Lorca, organizado pela Associação Riograndense de Imprensa e cuja comissão julgadora era presidida por Mário Quintana.

Logo após a minha estréia em livro tive um problemão:

- E agora, Isaac, que tu já estás lançado como escritor, o que vais fazer para continuar escrevendo? Vais continuar a mesma obra, ou vais inventar tudo novo a partir de zero?

O fato é que muita gente gostava de criticar, para que serve ser poeta, ou escritor?

Hoje sei que poeta não é rimar anil com Brasil, não é sair por aí declamando nos bares enfumaçados nem é abrir uma remessa de telegramas poéticos para festas.

A única utilidade dos poetas, e isto por si só justifica o escrever, é o desabafo que vem lá do íntimo e os reconcilia consigo mesmos e com a sociedade.

E uma das maiores satisfações minhas foi ver o meu livro “Poemas ao Portador” fazer ótima impressão a Mauricio Rosenblat, grande amigo de Érico Veríssimo e fundador da Feira do Livro de Porto Alegre. Um dos poemas do livro que Mauricio mais apreciava era “A Carne”, que vou apresentar agora.

A CARNE

De Isaac Starosta

Era distante a carne.

Cheguei perto.

A carne era de pedra.

Recusei.

A carne era musical.

Dancei mal.

O jogo era muito alto.

Rastejei.

Entre ouros, rei sem naipe.

Perco. Insisto.

Carne é isto.

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