sábado, 6 de novembro de 2010

JOAQUIM NABUCO FRASISTA



É um ótimo biógrafo, memorialista, historiador, advogado, diplomata.

Mas alguém sabe do seu trabalho como pensador?

O livro que eu descobri do mestre nessa área é justamente o que leva literalmente por título ”Pensamentos Soltos” do qual extraí, para meus leitores, o de número 37, à página 102:

“Em milhares de livros, há um que é tema; os demais não passam de variações”.

Admirei neste pensamento o raciocínio conciso, certeiro, direto ao alvo, e há também nele alguma ironia com os que escrevem, escrevem, escrevem, sempre em redor do que os outros já escreveram. Mas não será esta a injunção natural de tudo o que a gente pensa, de tudo o que a gente diz? As coisas que a gente faz se correlacionam ao já feito. E este é o mecanismo mais comum a todos os atos civilizados.

Quais livros é que poderiam ser considerados “temas”? Seria um o D.Quixote, referente às utopias? Seria outro o “Romeu e Julieta”, referente à eterna força do amor?

Ora, os escritores e os editores de hoje ficariam ruborizados com este pensamento solto, número 59, de Joaquim Nabuco:

“A profissão de escritor merece toda piedade. Escrever para ganhar o pão, escrever para viver é deformar o talento”.

Sim, certo, pois grande parte dos que militam nos jornais se preocupam mais com o “furo jornalístico”, que faz o jornal vender, do que com o estilo do texto, ou com a serena contemplação da verdade.

Esta concepção do escrever de Nabuco está posta de uma maneira um tanto radical, porém agora, pensando bem, haveremos de convir que a maior parte do que se publica não é para ganhar o pão. E os que vivem do ato de escrever são muito raros.

De qualquer forma, este conceito de Nabuco coincide com a minha idéia mais consolidada, em função da experiência que eu tenho tido, de que a literatura, antes de mais nada, visa um padrão estético, e, como tal, pertence às Belas Artes.

Um comentário:

  1. Por algumas vezes já me peguei pensando nisso, o quanto nossas ideias não são novas, o quanto reproduzimos o que vemos, ouvimos e até o que sentimos é deveras contaminado pelo exterior, alguém já disse: o discurso nos atravessa e nos constitui.
    E pior de certa forma isso me entristece, tão bom seria ser criativamente original, mas e esse pensamento que diz que o original é melhor, vem de onde?
    rsrsrsrs
    Quanto a escrever... bom aí deixo mesmo pra ti comentar, visto que não passo nem perto...

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