sexta-feira, 23 de julho de 2010

ALGUÉM QUER SALVAR A LITERATURA?


Conheci o Prof. Luiz-Olyntho Telles da Silva quando cursei as disciplinas pedagógicas da Faculdade de Letras, onde o assunto que ele lecionava atendia pelo nome soleníssimo de “Psicopedagogia do Desenvolvimento Individual”

Luiz-Olyntho, ou “o Telles”, como o tratávamos, logo nos chamou a atenção como um professor diferente dos outros, porque ele era simpático e sorridente.

Um certo tempo depois eu soube que ele exercia profissionalmente a Psicanálise. E mais, que o seu paradigma estava nas idéias de um psicanalista dissidente de Freud que se chamava Jacques Lacan, cujas filosofias, para mim muito complicadas, nunca consegui entender bem. Mesmo porque sempre sofri de uma certa resistência a qualquer ciência que adquire foros de cidadania. Materialismo. Fenomenologia. Psicanálise. Quando caem na boca do povo, acabam servindo de rótulos para tudo. Neurose. Complexo. Recalque. Repressão. "Não se assustemo", como diz o gaúcho, Freud tudo explica. São palavras mágicas que até letra de samba podem se tornar.

Eu não tinha recalque,

Eu não tinha complexo,

Minha vida era boa e calma...

Mas voltemos ao Telles.

Uma época, lembro, ele passou a formar grupos de estudo, e eu assisti a algumas das reuniões, em que, paralelamente à Psicanálise propriamente dita, a gente cogitava sobre filosofia grega, cinema, obras de arte e até de poesia. Passei a admirar que ali, além de psicólogo, estivesse um verdadeiro pensador unindo ciências e artes numa só Cultura Global. Palmas para ele!

E, de repente, além de todas essas capacitações que enumerei, o homem me aparece dando palestras relativas à leitura das obras de ficção.

Convidado por uma pessoa nossa conhecida comum, passei a assistir às palestras do Telles, sempre de pé atrás, como é do meu feitio nessas ocasiões.

A gente teria de ler os livros que ele estivesse indicando e depois comentar e debater com ele uns trinta dias após a leitura de cada um.

Cheguei a pensar que não seria pertinente um psicólogo invadir a área dos historiadores e críticos literários. Mas, de repente, eu tive lá no âmago das entranhas, uma centelha de bom-senso me mostrando que eu mesmo, o Isaac Starosta, fui durante muitos anos dentista e escritor simultaneamente, então por que não admitir que um psicanalista possa fazer o mesmo que eu?! E até me surpreendi ao conhecer contos do livro que Telles escreveu e publicou, os “Incidentes em um ano bissexto”. Requintes de linguagem. Paisagens de cidades exóticas. Reminiscências na base do bom-humor. Livro forte, a palo-seco e de recorte original.

Em suas palestras ele se houve bem, mesmo falando de livros difíceis como o “Senhor Embaixador”, de Érico Veríssimo, e o “Ulisses”, de Joyce. Este último, pela síntese e o colorido da exposição de Telles, até me despertou a ambição de um dia desses estudá-lo em profundidade.

E chego agora ao final com a consideração mais importante deste artigo. É que participei alguns anos, como escritor, em “Encontros com alunos do II Grau”. Nossa tarefa era atrair os alunos para os textos literários. Mas, mesmo promovendo uma fonte de identificação para os jovens com a figura dos escritores, faltou-nos causar maior receptividade às nossas gloriosas obras.

Hoje, porém, sob a iniciativa do Prof. Telles, estou vendo a perspectiva promissora de usar o espaço das próprias livrarias para aproximar os livros dos leitores, sendo que desta vez os livros são apresentados como objetos de valor em si, e não, como eram antes, mera projeção das personalidades dos autores.

Sim, tal iniciativa pode proporcionar um melhor conhecimento dos livros aos leitores que queiram aprender mais, assim como também satisfazer a curiosidade das pessoas que eventualmente se aproximem da livraria naquela hora.

Creio que a melhor apresentação do Telles até agora foi a do livro “O Filho Eterno”, de Cristóvão Tezza, com o número e o nível dos participantes muito alto e uma empatia muito forte entre os leitores e o palestrante, e entre os leitores e o próprio texto instigante.

Sabe-se que a Literatura é uma coisa maravilhosa, mas, para exercer o seu papel, precisa que as pessoas acreditem nela, que as pessoas saiam de vez do seu estado de descrença nos valores espirituais.

E, mais ainda, para chegar a tal ponto é preciso que alguém aceite e assuma a responsabilidade de mudar a cabeça das pessoas.

Vejam que é um papel muitíssimo difícil.

E quem aceitou assumir este papel, e o está desempenhando para lá de bem, é o Prof. Luiz-Olyntho Telles.

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