DIÁRIO POÉTICO
Isaac Starosta
Sou um intuitivo.
Nunca cometi um soneto, por exemplo, nem mesmo cometi qualquer tipo de écloga ou ditirambo.
Métrica e rima só me acontecem por mero acaso. São coisas do tempo da literatura oral, usadas como meros recursos mnemônicos.
Me libertei das formas fixas, para me dirigir à utilização de formas específicas que vão se sucedendo de poema a poema.
Para Casais Monteiro, a poesia moderna dá muito mais trabalho artesanal ao poeta do que a poesia clássica ou romântica, pois na moderna precisamos construir verdadeiras sinfonias, com vozes timbres e estruturas superpostas, ao passo que na poesia deliberadamente formal, só se faz uma sonata simples, linear, ou um bom canto gregoriano monocórdico.
Sei que nasci poeta, mas sei também que trabalhei muito, muito tive de me adicionar tijolos à construção para me construir humildemente como um autêntico poeta.
Sem um intenso trabalho, eu teria ficado naquelas primeiras rimas e ritmos ingênuos para sempre. Teria ficado diariamente na gravata bem colorida e no suspensório atlético. E na vida interior tudo teria vindo espontâneo, fluente, sem eu saber como nem por quê.
Depois dessas primeiras tentativas, tudo se tornou conscientemente induzido por mim mesmo, epístolas falando na grandeza do Brasil ou falando de amor às namoradas; e uma longa Carta ao Meu Pai, que nunca tive a coragem de publicar até hoje, mas que tentar, tentei até a exaustão.
Meus ídolos de adolescente: Augusto dos Anjos, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, particularmente nas tempestades dramáticas daquele filósofo-chorão Álvaro de Campos.