O BARBA-RUIVA
O canarinho Barba-Ruiva está há trinta anos lá em casa e não pára de cantar o dia inteiro. Foi um presente que eu ganhei pelo Dia dos Pais.
E ele canta democraticamente para todos que o queiram escutar, independente de credo e preferência eleitoral nas próximas eleições de outubro.
De início até pensei que, pela cor cinza-chumbo da sua plumagem, o bichinho não pudesse ser um bom cantor. Das minhas leituras em livretos sobre a vida dos canários tinha-me ficado a noção de que canário, para ser bom, teria de ser puro-sangue, amarelo imaculado, a cor própria da seleção brasileira de futebol. Mas pela força do seu canto, em pouco tempo passei a mudar aquela minha idéia de puro-sangue em relação aos canários.
O apelido de “Barba-Ruiva” foi a Silvia quem lhe deu, devido a umas manchas marrom-avermelhadas, em pequena parte das penas escuras, em redor do bico e em redor dos olhos dele também.
Não para de cantar o dia inteiro. Ainda mais considerando que nós acolhemos aqui em casa dois periquitos que se haviam perdido na via pública, e eu então tinha para mim, de acordo com Tia Celima, que “periquito só serve para estragar o canto dos canários”. Pois saibam que o Barba Ruiva não se assustou nem um pouquinho com as periquitices dos seus novos vizinhos. Passou a cantar até mais alto do que antes.
Hoje ele vive sozinho, sem companhia, pois todas as suas antigas fêmeas já morreram. Será que, de toda a população do meu quintal, foi só o Barba-Ruiva quem se esqueceu de morrer? Ou, quem sabe, ele de fato já morreu e agora virou apenas obsessivamente uma lenda dentro da minha imaginação?
Estou até achando que ele não tem mais uma presença física. Virou pura canção! É como se fosse uma dessas gravações repetitivas que hoje muito se usam dentro dos brinquedos sonoros das crianças.
N.B.
E não se assustem se eu falei em trinta anos a idade deste matusalém canoro. É que ele já está há tanto tempo lá em casa que eu até perdi a conta da idade dele.
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