segunda-feira, 3 de maio de 2010

EMOLDURANDO QUADROS

EMOLDURANDO QUADROS

Meu tio mais velho, padrinho primeiro e único, vai ter em breve um retrato emoldurado na parede da sala de estar lá de casa. Se hoje fosse vivo, teria uns cento e alguns anos de vida.

Outra moldura, que vou pendurar numa parede do quarto é o auto-retrato a bico de pena do meu melhor amigo de jovem, que cedo partiu para Israel e nem sei se ainda vive. Apesar do saudosismo, eu hoje estou alegre. Até que soa bem emoldurar épocas inteiras do Passado. Parece que todo mundo continua vivo e para sempre. Assim tudo ganha em cores e expressões.

Em parte me desagradou a senhora da casa das molduras, que ficou uma hora discutindo a cor e a forma do passe-partout, quando o que eu mais queria era uma moldura de época que me devolvesse as piadas do papagaio, os bondes amarelos e os bailes com orquestra de jazz-band.

Dos meus tios, já não me resta quase nenhum. Quanto aos primos, nem sempre algum se volta na rua para cumprimentar o outro. Resulta que um dos primos mora em frente ao meu edifício e mesmo assim a gente quase não se vê.

Uma das primas, que uma vez viajou comigo para conhecer a Argentina, foi morar em São Paulo e nunca mais voltou.

O problema, porém, não é tanto de distância geográfica, porque diversos primos estão morando a poucos minutos de mim, e, assim mesmo, nada. Pois a distância não é geográfica, é anímica. A culpa é do pragmatismo atual de nosso viver sem conviver.

O que tem decaído muito, nos últimos tempos, é o hábito de “fazer visitas”

Visita para quê, se não se ganha nada com isso!?

É por esses tais motivos que eu digo: - a família não só cresceu e se multiplicou, como se espalhou e dividiu demais também.

Um comentário:

  1. Isaac!
    Venho aqui te visitar, de vez em quando. Sabes como admiro teus poemas e escritos em geral.
    Gostei da versão nova para o ESCADA ROLANTE.

    Grande abraço,
    Gilia

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