Hoje, domingo, o meu time, Grêmio Futebol Porto Alegrense, vai decidir com o Inter o campeonato gaúcho. E logo, depois do café da manhã, eu, não tendo muito em que pensar, lembrei-me de reler poemas do meu livro de estréia, Poemas ao Portador, já há várias décadas de distância. Fiquei contente porque vejo, em pleno livro de estréia, alguns poemas que se sustentam até hoje. Os da morte, por exemplo. Ao mesmo tempo, fiquei triste por estar oferecendo as minhas mortes passadas e bobas aos meus leitores presentes e inteligentes. Mas que farsa foi essa que aconteceu a um jovem, naquele tempo mal entrado na casa dos trinta, subitamente preocupar-se com a morte!
E que direito tenho de transmitir aos leitores tal preocupação?
Lembro que naquela idade, pouco mais de adolescente, a morte nos proporcionava, durante as nossas turbulências e ansiedades vitais, uma certa sensação de repouso, de paz, pelo convívio com as coisas inertes, misteriosas, provindas de algum baú do sótão da nossa infância.
Hoje, também, quando a idade está avançando, e isto eu percebo já de algum tempo para cá, quando a idade nos torna mais próximos do fim, aí então é que nos ocorre, surpreendentemente, uma intensa vontade de viver, de conhecer, de fazer aquelas coisas que antes não dava nem tempo de fazer. Sim, só por aí a morte já se justificaria, já teria uma função essencial para a continuação da vida...
Vamos a um dos poemas que fazem parte do capítulo Namoros Com a Morte do meu livro de estréia. Confesso que estranho um pouco o meu estilo de então, que correspondia a um estado de espírito do jovem que pega a morte pelo braço e reclama, sai daí Dona Morte, sei que a senhora está lépida, imponente, muito bem vestida, mas me arreganhando os dentes, me exigindo e desafiando para o terrível combate, mas me faça um favor, esqueça de mim, vê se me deixa curtir esta bobeira de vida por mais um bom tempo!
ENCONTROS COM A MORTE (I)
De Isaac Starosta
Sei que vou morrer;
Ninguém quer saber.
Meus primos ricos,
minhas marlenes,
o patrão que sempre
evitei,
perguntarão,
fingindo curiosidade,
pela minha causa mortis.
Direi, antecipadamente,
Que a vida é um cigarro
a mais ou a menos
que a gente fuma
ou esquece de fumar,
que a boca existe,
Deus existe,
a cinza existe
antes nunca ou enquanto
me antecipo a não sei o que mais.
As paredes lisas, os vestidos verdes,
o verde milharal ao vento.
as lesmas meio-dia na avenida.
Ó nuvens resignadas,
eterno flui vosso perfil ao vento!
enquanto eu sou duro, exato,
sou feito de aço, e apodreço!
Fim
(- Querem que eu volte outro dia com a Morte, ou preferem que eu dê um refresco?)
Que morte mais viva pode pedir um leitor já morto para a poesia?
ResponderExcluirSeu poema é poiésis ressuscitada.